Olá, estive sumido por um tempo, vestibular, planejamento orçamentário 2020, aulas, família, mas prometo que vou retomar a periodicidade da coluna, e convido os leitores a enviarem dicas de assuntos nas áreas de solos e clima para o e-mail erosividade@gmail.com . Na medida do possível, tentarei abordar os temas nesta coluna ou pelo menos responder por e-mail.
Hoje vamos conversar sobre Adversidades Climáticas, ou seja, sobre os fenômenos naturais que causam desastres e trazem prejuízos para as sociedades. É normal termos episódios de ventos e chuvas fortes, ou no contraponto episódios de secas, mas de modo geral o efeito destes eventos não chegava a ser preocupante ou a causar estragos significativos.
Porém, nas últimas décadas, houve um aumento considerável no número de registros de desastres naturais de origem climática adversa, em muito devido ao aumento da população, a ocupação desordenada e ao intenso processo de urbanização e industrialização.
Na região urbana, os principais fatores são a impermeabilização do solo (asfaltamento sem meios de escoamento pluvial), o adensamento das áreas construídas, a conservação do calor e a poluição do ar. Já na região rural, podemos citar a compactação e mal manejo do solo, assoreamento dos rios, os desmatamentos e as ainda hoje existentes queimadas.
Ok, você deve estar pensando “mas na minha cidade isso não acontece”. Parabéns, você é um munícipe de sorte, mas a realidade da maioria das cidades é bem preocupante. E mesmo assim, você não está livre de sofre na sua cidade os efeitos climáticos resultantes da má gestão urbana e rural de outros municípios.
Temos que lembrar sempre que o clima é o resultado de vários fatores globais, ou seja, a falta de transpiração e realocação de água na atmosfera devido as queimadas no norte do país vão afetar diretamente os rios voadores, que por sua vez vão ter menor influência na nossa região, permitindo um maior avanço das massas de ar oriundas do extremo sul do nosso continente.
Esse foi um exemplo mais generalista. Vamos pensar a nível local. Você fez seu papel como cidadão e exigiu do seu prefeito e vereadores para que fosse asfaltada a rua da sua casa. É um direito seu inegável. Mas você e o restante da população fiscalizaram se a questão ambiental foi preservada? Explico, quando chove, a tendência é do solo absorver a chuva. Se tivermos um calçamento de pedras, a absorção diminui, mas ainda vai existir. Num calçamento de asfalto, não existe mais absorção (a tecnologia para isso existe, mas nunca vi ser usada no Brasil) e a água da chuva tem que ir para algum lugar.
Solução: fazer uma rede de escoamento pluvial. Essa rede desloca a água para uma via fluvial do município e o problema se resolve. Será? Às vezes essa via, que pode ser um arroio, um rio, ou uma mera sanga, não tem capacidade de escoar toda aquela carga de água, e acaba transbordando e alagando os arredores.
Você pode ainda alegar que nem choveu tanto assim, mas tem que se lembrar de que cada milímetro de chuva equivale a 01 litro de água por metro quadrado de “solo”. Em uma área de 01 hectare, que tem 10 mil m², um único milímetro de chuva significa um volume de 10 mil litros de água, que se não infiltrar, vai escoar para algum lugar.
Em Santo Augusto, a área urbana sem capacidade de infiltração da chuva deve equivaler a mais ou menos 350 hectares (valor obtido pelo Google Earth, dados oficiais falam em 667 hectares de área urbana total). Se houver uma chuva de 10 mm, o que é bem pouco, e essa água for escoar para algum lugar, teremos um total de 35 milhões de litros de água (35 mil metros cúbicos) indo parar nos arroios, sangas e rios que circundam a zona urbana. Imagine o valor para uma cidade do tamanho de Ijuí, ou de Porto Alegre.
A própria questão dos ventos fortes, é um resultado dessa variação climática que vivemos. Esta semana tivemos rajadas de 91 km/h em Santo Augusto. Culpa de Santo Augusto? Sim, e de todos os municípios do estado, país e continente, que ao impermeabilizar o solo urbano e diminuir sua área verde, diminuem os processos de reciclagem do calor, elevando as temperaturas, que aquecem o ar próximo ao solo e provocam a sua movimentação, alterando os processos normais de aquecimento da atmosfera.
Resumindo, cada ação em que atuamos contra a natureza, ao invés de agirmos com a natureza, ajuda a aumentar a probabilidade do acontecimento destas adversidades climáticas, que muitas vezes colocam em risco a nossa economia, a nossa saúde, e até mesmo a nossa vida.
Conseguimos consertar? Acredito que sim, mas não sozinhos, e muito menos para amanhã. Significa mudar conceitos e crenças, respeitar o solo, seja ele urbano ou rural, entender como atua o clima e o tempo na sua região, e principalmente, nos adaptarmos ao ambiente onde estamos ao invés de querer que o ambiente se adapte a nós.
Respeitando a natureza e entendendo que somos uma peça de uma máquina maior, com certeza deixaremos um ambiente melhor para as gerações que estão por vir.
Tenham uma boa semana e até a próxima. E para saber um pouco mais sobre o assunto, não se esqueçam de visitar a minha página em crisnunessantos.pro.br
Cristiano Nunes dos Santos
Professor do IFFar – Campus Santo Augusto
Post da Coluna Agricultura em Foco no site Querência Online - Adversidades Climáticas
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